28 de abril de 2009

Capítulo 24

Despedida com estilo

Salões, boates, orquestras. Ainda sobrevivia na década de 1970 parte do aparato da noite e dos bailes, que, no entanto, parecia pressentir mudanças. Não eram necessariamente boas do ponto de vista musical, embora pudessem, em alguns casos, resultar em mais grana. De qualquer maneira, instalava-se um período que arrastaria para outras áreas e caminhos uma leva de profissionais anteriormente ligados a fases mais glamourosas.

Marinho, companheiro da Mantovani de Assis, já estava de volta a Santo Anastácio, depois de superar uma tuberculose e de ter passado pelas orquestras de Nelson de Tupã e de Silvio Mazzucca. Outros da velha-guarda começavam a parar ou a planejar a aposentadoria que levaria Renato Cauchioli para Itanhaém e Franco Paioletti para Atibaia. Ratinho iria trabalhar no Japão, Maguinho se integraria ao RC-7 de Roberto Carlos.

O Ponto resistia na mesma esquina, pelo menos um dancing permanecia na ativa perto dali – o Avenida, na Ipiranga -, mas anunciavam-se outros tempos. Manter viva uma orquestra passava a ser tarefa muito difícil. Em 69, José Resala, o Turquinho, ex-baterista da orquestra de Mazzuca, organizou o que, sem querer, pareceu uma despedida em grande estilo da era das grandes formações. Gravou pela RCA Victor o LP Resala’s Band, com arranjos de Carlos Pipper e Chiquinho de Moraes. Foram suficientes duas sessões de seis horas de duração, no estúdio da Rua Dona Veridiana.*


Quando os músicos chegaram para a sessão regida por Chiquinho de Moraes, o maestro acabava de escrever o arranjo de Alfie, de Burt Bacharach. O solo, entregue a Casé, entrou para uma antologia a que poucos tiveram acesso. Na contracapa do disco, o texto informava que a orquestra não havia sido formada apenas para gravar, mas para “se apresentar nos melhores bailes em todo o país”. Fez cinco e se desfez. Turquinho ainda insistiu. Formou mais adiante o Jongo Especial, em que Casé chegou a ter algumas atuações. Em 82, após uma apresentação em Avaré, o baterista abandonou as baquetas e foi trabalhar com cavalos de raça.

O mercado de trabalho adquiria um outro contorno, fragmentava-se numa funcionalidade cada vez mais estreita e demarcada. Uma delas: compor, arranjar, tocar em jingles e trilhas de filmes de propaganda. Resultava em faturamento mais alto e em sacrifício menor do que o exigido para trabalhar em casas noturnas ou para animar bailes a centenas de quilômetros de casa. Em direção à publicidade rumariam ex-protagonistas da noite, dos shows e das festas dançantes, como Nilton, primeiro baixista do conjunto do Casé. O mesmo faria Theo de Barros, ex-integrante do Quarteto Novo, autor de Menino das laranjas e Disparada, que em 74 ainda conseguiu montar uma orquestra para uma única sessão de gravação. Theo compôs e arranjou um jingle de 30 segundos para o uísque Old Eight, baseado em Strangers in the Night e cantado por Décio Cardoso, cover de Sinatra. Casé participou. Chegou modesto como sempre. Theo, que o conhecia da noite, ficou impressionado: ele parecia ler duas partituras ao mesmo tempo – a dele e a do vizinho de estante, a quem com muito jeito sugeria correções.

* Além de Turquinho, a cozinha contou com o piano de Paulo Lima, o baixo de Chu Viana e Gabriel Bahlis e a percussão de Rubão. Nos trompetes, Capitão, Buda, Cunhado e Waldyr. Nos trombones, Bil, Arlindo, Firmo, Paco e Iran. Nos saxes, Goiabinha (barítono), Hélio Marinho e Ribamar (tenor), Dinho e Casé (alto).

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