28 de abril de 2009

Capítulo 2

Jazz para americanos

Alastrava-se no meio profissional a fama do moço mirrado, de modos contidos. Músicos de outros estados viajavam a São Paulo para vê-lo de perto. Os estrangeiros em turnê pelo Brasil ficavam igualmente impressionados com o talento, a técnica esmerada, a musicalidade que lhe saía pelos poros. Nenhum elogio, porém, era capaz de abalar aquela modéstia pétrea. Poucos ouviam sua voz, e raríssimos eram testemunhas de suas frases rápidas, frequentemente inconclusas, por vezes repletas de um sutil senso de humor. Carreira solo? Sucesso? Bobagens: a ele nada seduzia. Nem mesmo os salamaleques e as propostas para deixar o Brasil, feitas por jazzistas de nomeada. Em outubro do mesmo ano em que causou espanto ao incauto maestro Almella, Casé emprestou um instrumento ao saxofonista Al Belleto, da orquestra de Woody Herman. Após os shows no Teatro Paramount, os músicos de Herman saíam em busca de locais onde pudessem beber, ouvir boa música e, melhor ainda, dar canja.


Um dos muitos pontos de agitação musical ficava na avenida Nove de Julho, no bar do Hotel Claridge, que mais tarde passaria a se chamar Cambridge. Para lá rumaram com Casé vários instrumentistas da orquestra. Deram de cara com um trio formado pelo pianista Walter Wanderley, o baterista Rubinho Barsotti e, revezando-se ao contrabaixo, Chu Viana e Azeitona. Estava feita a cama para começar a jam session. Em poucos compassos a desenvoltura de Casé ao sax alto deixou surpresos os solistas americanos. Dias depois, na canja repetida no Club de Paris, na Vila Buarque, os estrangeiros teriam uma surpresa ainda maior. O saxofonista Marty Flax convidou Casé ao palco. Só que não havia um alto dando sopa por ali – apenas um tenor, especialidade de Jay Miglioti e Joe Romano, dois grandes músicos com quem o brasileiro dividiria a cena. Com rigoroso domínio de linguagem, Casé não demorou a impressionar os dois jazzistas. Foi o assunto da banda de Herman no dia seguinte.

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